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sexta-feira, 23 de março de 2007

FRACASSO DA EVEN COLOCA EM XEQUE PRÓXIMOS IPOS DE CONSTRUÇÃO NA BOLSA

As modificações na oferta de ações da Even Construtora e Incorporadora instalaram de vez no mercado as preocupações com o futuro dos IPOS do setor de construção na Bovespa. De acordo com fontes, não houve "demanda alguma" pelos papéis. A empresa cancelou a colocação secundária e as informações são de que os acionistas que anteriormente seriam vendedores irão comprar na primária, para não terem suas participações diluídas. Já começam a aparecer rumores de que a incorporadora imobiliária JHSF paralisará a operação. Apenas a BR Malls, com um certo diferencial por estar mais ligada ao segmento de shopping centers, estaria com uma colocação mais tranqüila.

O primeiro sinal de saturação do segmento de construção foi dado semana passada, quando a oferta da Gafisa saiu com um alto desconto e, segundo os rumores, com a necessidade de os bancos coordenadores colocarem garantia firme.

Ontem, a Even informou que adiou a oferta e baixou o preço. Antes a faixa variava de 13,50 a R$ 18,50 e agora foi reduzida para R$ 11,50 - muitos no mercado falam que esse é o valor fechado, o que leva a uma captação de R$ 400 milhões. No comunicado ao mercado, a empresa disse que concedeu o direito de preferência para os atuais acionistas. Antes do cancelamento da secundária, os vendedores eram Pradesol Corporation Sociedad Anonima, Luis Terepins, Carlos Eduardo Terepins e Kary.

Para o mercado, a empresa só não cancelou totalmente a distribuição porque estaria precisando dos recursos. Se confirmado que os R$ 11,50 serão mesmo um preço fechado, a situação da oferta muda, uma vez que deixa de existir o bookbuilding, em que as reservas dos investidores formulam os valores das colocações.

Fontes afirmam que as perspectivas fortes para o setor, por conta do grande déficit imobiliário no País, com expectativa de queda do juro e melhora no crescimento do Brasil, aliadas ao bom momento da bolsa, acabaram por atrair empresas que não estariam bem preparadas para acessar o mercado. "As companhias de melhor performance no setor já se listaram. Não vejo espaço para que mais outras 20 acessem a bolsa. Nesta lista, há muitos casos de companhias que estavam inoperantes ou que agora estão se 'vendendo' com foco na classe de renda mais baixa sem nunca terem atuado neste segmento", avalia uma fonte. A análise recorrente é que, se as empresas não apresentarem diferenciais, não haverá procura, já que o mercado está lotado de opções no setor.

Segundo um executivo do setor, muitos já identificavam que essas empresas que preparam IPOs este ano estavam inflacionando os preços dos terrenos, diante da janela de oportunidade de capitalização via mercado. "Houve casos em que essas pretendentes ofereceram 30% a mais por terrenos que estavam sendo cobiçados por outras construtoras. Ao pagar mais pelas áreas, a companhia, de certa forma, infla seus ativos e consegue justificar uma precificação mais elevada em sua oferta", diz. Essa movimentação já estava sendo sentida pelas empresas, que viam a disparada, por vezes sem fundamento, dos preços dos terrenos.

Um profissional lembra ainda que, a R$ 11,50, a oferta sairia com um desconto de 30% em relação à média do preço da faixa inicialmente sugerida. Em uma associação simples e direta, é possível esperar que as outras companhias que estão com ofertas em andamento poderão sofrer reduções nas mesmas proporções. A JHSF sugeriu preço entre R$ 11,50 a R$ 15,50; a BR Malls, de R$ 11,00 a R$ 15,00. A reserva da primeira termina dia 28 e a da segunda, dia 30. Segundo players, se for confirmada a oferta dirigida, ou mesmo o adiamento de outras operações, a tendência é de que os custos da estruturação dos IPOs aumentem, pois os bancos verão riscos maiores para entrar com garantia firme nas colocações.

Para os que acreditam que o revés da oferta de construção tem a ver mais com as características do mercado, que anda volátil desde o final de fevereiro, uma forte justificativa para a queda na demanda seria as complicações com o mercado imobiliário subprime nos EUA. Por conta dessas perdas, os investidores pelo globo estariam evitando maior exposição a este segmento. No entanto, nas ofertas deste ano, já havia sido identificado uma fatia menor para o estrangeiro quando as opções foram ligadas ao ramo imobiliário.

Para as companhias que já são negociadas em bolsa, será positivo se houver menos ofertas no setor, acreditam analistas. Quanto maior o número de alternativas para o investimento, mais diluído estariam os recursos entre as diversas empresas.

Ano passado, em maio, o momento forte de depreciação dos mercados levou ao adiamento de diversas ofertas, mas nenhuma como foi o caso da Even, no dia do fechamento do bookbuilding.

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