Por: Felipe Abi-Acl de Miranda
10/05/07 - 19h10
InfoMoney
SÃO PAULO - Realização de lucros. O termo é usual no mercado e, como se sabe, refere-se basicamente às situações em que os investidores, satisfeitos com os lucros acumulados num histórico recente, ou temerosos de que estes se transformem em prejuízos, acabam se desfazendo de suas posições, exercendo uma pressão para baixo no preço dos ativos.
Mais do que um fenômeno usual no mercado financeiro - basta ver a queda abrupta do Ibovespa de 6,63% no dia 27 de fevereiro de 2007 e a forte correção vista em maio do ano anterior -, as realizações de lucros têm explicação num aspecto psicológico importante inerente aos investidores.
Indo à psicologia
Na tentativa de explicar a lógica - ou a falta dela - em algumas situações do dia-a-dia das finanças, muitos economistas vêm buscando explicações na psicologia para fundamentar as decisões individuais, formando uma linha de pesquisa promissora denominada Finanças Comportamentais.
Dois dos precursores neste campo são os psicólogos Daniel Kahneman, vencedor do prêmio Nobel de Economia de 2002, e Amos Tversky, que foi professor da Universidade de Stanford, cujos principais trabalhos se dedicam a explicar as distorções à perfeita racionalidade dos investidores no mercado financeiro. Ou seja, como algumas "anomalias" ocorrem e persistem nos mercados.
E uma de suas principais contribuições passa justamente pela explicação dos processos de realização de lucros, por vezes aparentemente injustificáveis.
Um experimento esclarecedor
Kahneman e Tversky afirmam que os investidores agem de forma diferente quando estão expostos a lucros e a perdas, sendo muito mais avessos a retornos negativos do que propensos a rendimentos positivos da mesma magnitude.
Em seu experimento clássico, os psicólogos apresentaram dois esquemas, sendo que os entrevistados deveriam escolher entre uma das duas possibilidades em cada um dos esquemas:
Esquema 1: um ganho de $ 3.000 com certeza ou 80% de probabilidade de um retorno positivo de $ 4.000.
Esquema 2: uma perda de $ 3.000 com certeza ou 80% de chance de um prejuízo de $ 4.000.
Resultados do experimento
No Esquema 1, a alternativa com certeza - ganho de $ 3.000 - foi preferida por 85% dos participantes do experimento. Embora a escolha mais freqüente possua um retorno menor frente ao valor esperado da outra opção - $ 3.200 ($ 4.000 x 0,80) -, isto, por si, não representa uma das "anomalias" do mercado, pois apenas indica aversão ao risco.
Contudo, no Esquema 2, 92% dos entrevistados escolheram a opção com risco - ter um prejuízo de $ 4.000 com 80% de probabilidade -, refletindo a preferência por um caminho cujo valor esperado ($ -3.200) indicava uma perda maior. Ou seja, neste caso não há aversão ao risco.
Esclarecendo um pouco mais, as pessoas foram avessas ao risco quando expostas aos possíveis resultados positivos, e amantes do risco ao se depararem com uma situação de perda potencial. Daí se configura a anomalia. Não há motivos racionais para ter preferências diferentes quando se trata de lucros ou prejuízos. Afinal, o prejuízo nada mais é do que um lucro negativo.
E por isso há realização
É esta anomalia psicológica que pode ajudar a entender os processos de realização de lucros. Os investidores tendem a ser avessos ao risco quando expostos a uma situação de ganhos e, portanto, se desfazem de suas posições lucrativas com muita facilidade.
Daí os ajustes para baixo no preço dos ativos serem tão intensos e abruptos quando de momentos em que o mercado vinha de uma trajetória de alta.
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2 comentários:
Olá Observador,
parabéns pelo blog, acabei de conhecê-lo !
Passarei a visitá-lo com frequência.
Aproveito para convidá-lo a conhece o meu. http://chr-investor.blogspot.com/
Grande Abraço
CHRistian
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